Ética jornalística ou a falta dela

Quando se pensa em Queima do Porto pensa-se em exagero, em muita gente (a maioria alcoolizada), em concertos e em muita confusão. Bem, não é só na do Porto mas é esta que interessa para esta crónica. Pois bem, nesta última edição da Queima das Fitas do Porto, uma rapariga embriagada foi abusada por um rapaz também embriagado, num autocarro cheio de pessoas que se limitaram a filmar.

Mais do que ter sido de madrugada, ou o local escolhido ter sido um sítio tão público como um autocarro, choca-me o facto de ninguém ter feito nada a não ser filmar o sucedido. Choca-me ainda mais o canal televisivo Correio da Manhã ter transmitido essas mesmas filmagens, como se a vítima, maior de idade, já não se sentisse exposta, humilhada e desrespeitada o suficiente. Estas filmagens foram também publicadas nas redes sociais do canal com a legenda “Vejam!”. Obviamente, as imagens foram retiradas da Internet após vários comentários negativos dizendo que não concordavam com a publicação das mesmas.

O Correio da Manhã é conhecido pelas notícias pouco fiáveis, pelos erros ortográficos, ou pela ironia nos seus rodapés e agora também pela visível e lancinante falta de sensibilidade. Eu teria vergonha se trabalhasse num jornal/canal televisivo tão medíocre e, enquanto apresentasse esta notícia, tivesse de mostrar o vídeo da jovem a ser abusada. Não podemos atribuir total culpa à jornalista pois está apenas a fazer o seu trabalho, aliás, grande parte da culpa é do próprio jornal que, supostamente, comprou o vídeo, o transmitiu e o publicou.

Estes acontecimentos só me fazem perguntar onde está a ética jornalística destas empresas e pessoas, que são capazes de expor alguém assim. Talvez não sabem o que isso é, talvez nunca a tiveram, talvez a tiveram um dia e a esqueceram ou alguém a comprou.

Teresa Moreira  

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